A ADAPTAÇÃO HEDÔNICA E OS TRANSTORNOS MENTAIS

Nas últimas décadas a sociedade moderna pôde contar com inúmeros avanços,
principalmente quando se trata de tecnologia. A internet e principalmente as redes sociais
têm como papel aproximar as pessoas de diversos lugares, culturalmente e economicamente
distintas, permitindo o acesso a muitas informações que atribuem uma sensação de liberdade
e igualdade.
Esse avanço tecnológico também se deu na área do marketing, onde muitos
profissionais estão usando a neurociência aplicada para desenvolver estratégias de vendas,
ou melhor, eles compreenderam como funciona o sistema de recompensa do nosso cérebro
e se utilizam desse mecanismo para gerar o desejo e a satisfação no ato de comprar, através
da liberação de um neurotransmissor chamado dopamina.
Com isso, a facilidade de acesso as plataformas e sites de compras com preços
acessíveis e com promoções diárias, dá ao consumidor uma sensação de “poder de
aquisição” ilusório.

E por que ilusório?

Podemos dizer ilusório, no sentido de que somos
manipulados o tempo todo a gastar de forma compulsório.
Se parar para observar, somos bombardeados de propagandas nos dizendo o que
devemos usar, como devemos usar e o que precisamos para ser feliz o tempo todo; e agora
na era digital isso foi potencializado com os famosos influencers, com recortes de suas vidas
perfeitas nas redes sociais. Um influencer tem uma capacidade enorme, de fato, de influenciar
multidões de pessoas a comprar determinado produto, só porque ela usa. Acontece que essa
sensação de poder de aquisição faz com que a maioria das pessoas acreditem na ideia de
que, consumir e poder comprar itens considerados exclusivos de “famosos” gera igualdade.
Para se ter uma ideia, de acordo com o relatório lançado pela empresa de análise de
mercado digital App Annie, o Brasil lidera o pódio dos países no qual as pessoas passam
mais tempo conectadas, com uma média de 5 horas por dia. Todo esse contexto da rede
social, na verdade, está gerando mais cobrança e comparação; recentemente alguns estudos
realizados, como por exemplo da Canadian Journal of Psychiatry comprovaram que, quanto
maior o uso de telas, maior o nível de ansiedade.

Mas aonde quero chegar com isso?!

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) o Brasil é o país que lidera o
ranking de ansiedade e depressão na América Latina, com quase 19 milhões de pessoas
com essas condições. É claro que não podemos associar as redes sociais a causalidade do
desenvolvimento de uma depressão ou ansiedade; mas também não podemos negar que há
uma correlação entre a forma com que as pessoas estão vivenciando a internet com o fato
do aumento desses transtornos mentais.
Uma variável da era digital que deve ser considerada para a contribuição deste
fenômeno (o aumento dos transtornos metais) é o consumo hedonista, que é caracterizado
pela sobreposição dos desejos emocionais, que ultrapassa os seus atributos reais,
simplificando, quer dizer que a compra não tem como fundamento o utilitarismo (comprar
algum objeto por necessidade e/ ou utilidade) mas sim a satisfação do prazer.
A adaptação hedônica faz com que as pessoas busquem prazer o tempo inteiro, e
sem que elas percebam estão alimentando um círculo vicioso, proporcionando um consumo
de maneira exagerada. O ato de comprar, pode até gerar uma sensação de prazer, mas não
de felicidade, pois “coisas” se tornam obsoletas não agregam memória efetiva.
Outro ponto importante é que com a vida digital estamos deixando de viver
experiências reais, novas, criar memorias e assim, limitando o repertório de vida e
desenvolvimento.
Afinal, quando você viaja ou vive uma experiência uma aventura, se lembra da roupa,
sapato ou óculos que estava usando? Pense nisso.

Psicóloga Camilla S. Pugliesi / CRP 14/10044
Terapia Cognitiva Comportamental

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