Há muito nos interessa o entendimento mais abrangente sobre os cuidados acerca de nossa saúde mental. Porém talvez nunca tenha existido um período mais propício (e necessário) para se ampliar o debate e elevar o conhecimento sobre as estratégias preventivas e inclusão do apoio psicossocial a uma sociedade que vem sofrendo gradativamente com diversas formas de riscos à sua integridade emocional.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou recentemente alguns resultados importantes e alarmantes sobre o aumento de casos de transtornos que envolvem ansiedade e depressão. Segundo a instituição, o aumento foi de aproximadamente 25% da prevalência dos casos em todo o mundo*. Um efeito evidente do momento pós pandêmico, mas que revela a evolução dos riscos dentro do quadro de saúde mental de maneira uniforme, não dependente unicamente do potencial econômico ou de desenvolvimento humano de uma nação.
Considerando que alguns fatores geradores de estresse são comuns, como a situação de isolamento social forçada pela pandemia, o ponto crucial nesta abordagem ao problema é o plano de atuação e o trabalho preventivo que as autoridades realizam, bem como a maneira como a população entende e reage na busca pelo bem-estar psíquico e o fortalecimento da saúde emocional. Quando analisamos os dados específicos do Brasil, por exemplo, estamos falando do país com cerca de 10% de sua população total acometida pelo transtorno de ansiedade ao final de 2019**. Se na porcentagem não parece um número tão surpreendente, no panorama de casos nos referimos a aproximadamente 19 milhões de pessoas. Isso é, de fato, um dado expressivo e preocupante.
Mas como é possível prevenir uma psicopatologia tão recorrente e que se dissemina de maneira tão veloz? Para obtermos respostas consistentes, é preciso primeiro entender sobre o conceito e a interferência prática. Ansiedade é um mecanismo natural e temporário que o corpo humano possui, como forma de responder a episódios de nervosismo ou estresse. Quando essa manifestação se torna duradoura e persistente, aí devemos ligar o sinal de alerta. Identificar o que causa essa recorrência permanente, é uma ação importante na precaução ao adoecimento mental. Essa consciência sobre o comportamento é fundamental para distinguir um desconforto ocasional de um problema que pode levar a um transtorno.
Estar atento aos sinais de sintomas permanentes é o ‘radar’ que vai permitir ao ansioso uma alternativa de solução. E após a intensidade ser percebida como fora da normalidade, o caminho é um só: tratamento. Tratar a ansiedade generalizada pode significar se livrar dos momentos que trazem sofrimento, como falta de controle, pavor, insônia, medos exagerados, maus pressentimentos, sensações ruins, entre outros. Vale ressaltar que, quando não tratado adequadamente, o transtorno de ansiedade pode desencadear o agravamento para outros quadros, como o transtorno depressivo.
Tão essencial quanto a identificação pontual da ansiedade descontrolada, é a ciência que o tratamento deve ser feito por profissionais da área. Não adianta eu saber que tenho um problema que afeta minha saúde mental, se recorrer a qualquer tipo de ajuda ou apoio, e isso implica uma séria responsabilidade. A recomendação para um processo terapêutico eficaz passa por um bom diagnóstico realizado por um profissional competente (geralmente psiquiatra ou psicólogo), e o acompanhamento através dos métodos necessários em cada caso, isso inclui o uso de medicamentos e sessões de psicoterapia. Tudo o que for indicado fora deste padrão deve ser proveniente da recomendação destes mesmos profissionais, com embasamento teórico e científico.
Algumas dicas práticas, e que têm tudo a ver com os hábitos de rotina, também podem contribuir na prevenção da ansiedade generalizada:
– Atividades físicas regulares
– Cultivo de vínculos afetivos saudáveis
– Evitar o consumo de substâncias psicoativas, como álcool, cigarro e drogas
– Alimentação leve e equilibrada
– Cuidar da qualidade do sono
– Evitar os relacionamentos que tragam de maneira exagerada competitividade, intolerância, reações agressivas
– Preencher o tempo com atividades atrativas, fugir da ociosidade e do uso contínuo de telas virtuais
O autoconhecimento é palavra-chave no fortalecimento do equilíbrio emocional. Acredite, não se pode ter absoluta certeza de que nossa saúde mental estará livre a todo tempo da ansiedade que prejudica nossa convivência e desempenho pessoal. Mas tentar blindar ao máximo e amenizar os sintomas, se tornam recursos importantes neste ideal. Todos estamos suscetíveis a estressores psicossociais (um fim de relação, uma perda de ente querido, uma demissão…), mas todos temos a condição de escolher estar mais preparado mentalmente para os desafios que a vida proporciona.
Helder Aguero é psicólogo, especialista em gestão de pessoas e coach. Atualmente é psicoterapeuta na M.CO Consultórios, com abordagem em Gestalt-Terapia.
*Dados de Resumo Científico da OMS divulgados em março de 2022
**Pesquisa divulgada pelo Portal IG em maio de 2022